A elaboração de itens para instrumentos de autorrelato desempenha um papel crucial na pesquisa psicométrica, pois é por meio deles que os participantes expressam suas próprias experiências e percepções.
Neste post, vamos listar os principais cuidados que você deve ter na elaboração de itens eficazes para instrumentos de autorrelato.
Definição clara do construto
Antes de começar a construir itens para um instrumento de autorrelato, é fundamental definir com precisão o construto que você deseja medir.
Por exemplo, na construção de um instrumento para mensurar memória, defina exatamente qual tipo de memória será seu objeto de interesse. Isso ajudará a orientar o desenvolvimento de itens relevantes e direcionados para o seu instrumento de autorrelato.
Com o construto definido, o primeiro passo na elaboração de um instrumento de medida é ter uma definição constitutiva e operacional clara do que se quer medir. Nesse momento é fundamental distinguir entre a definição constitutiva e a definição operacional dos construtos que você deseja avaliar.
O que é definição constitutiva e definição operacional
A definição constitutiva se refere à descrição conceitual ou teórica de um construto psicológico. É a definição abstrata que descreve a natureza essencial e as características intrínsecas do construto. Esta definição fornece uma compreensão profunda do que o construto representa em termos conceituais. Ela responde à pergunta “O que é esse construto?”
Por exemplo: “A depressão pode ser definida como XXXX” ou “De acordo com o autor XXX, a depressão é definida como”.
A definição operacional é uma tradução prática da definição constitutiva em termos observáveis e mensuráveis. A definição operacional é crucial para a construção de instrumentos de medida, uma vez que define os indicadores (itens) que serão usados para representar o construto na pesquisa. Ela responde à pergunta “Como o fenômeno se manifesta?”
Por exemplo: Os sintomas da depressão são variados e podem se agrupar em diferentes categorias, tais como emocionais, cognitivos, comportamentais, físicos, etc. Um item que expressa humor deprimido poderia ser: “Eu achei difícil ter iniciativa para fazer as coisas“. Outro exemplo, mas considerando a ansiedade como construto de interesse, poderia ser: “Estou com a cabeça cheia de preocupações“.
Portanto é essencial ter uma boa definição constitutiva e operacional antes de iniciar a elaboração dos itens, pois é com base na definição constitutiva e operacional e também em instrumentos já existentes, que você criará os itens que irão mensurar o construto.
Porém, há algumas práticas que devem ser consideradas para que os itens sejam construídos de maneira adequada. Mas quais as melhores práticas e estratégias para elaboração dos itens nos instrumentos de medição?
Melhores práticas para elaboração dos itens
Certas melhores práticas são essenciais na elaboração de itens para medidas de autorrelato. Vamos ver uma lista de diretrizes importantes:
Clareza: Formule itens de maneira clara e concisa, evitando linguagem ambígua ou direcionamento na resposta. Evite itens como: “Não gosto de falar em público, porque sinto que as pessoas vão tirar sarro de mim.”
Evite duas perguntas no mesmo item: Veja o item “finalizo minhas tarefas”. Ele expressa apenas uma pergunta. Agora, se o item fosse “finalizo minhas tarefas no prazo e inicio outras sem dificuldade”, o respondente poderia ficar confuso ao responder, pois para ele pode ser fácil iniciar, mas não terminar tarefas, ou vice-versa.
Use linguagem simples: Evite o uso de jargões, terminologia técnica excessiva ou palavras pouco familiares. Tente usar uma linguagem simples e direta, evitando regionalismos e gírias.
Nesse sentido, os itens também precisam ser construídos pensando no público-alvo, isto é, considerando aspectos além da linguagem, tais como a diagramação (tamanho de fonte), método de aplicação, entre outros fatores para cada faixa etária, por exemplo.
Mantenha a neutralidade: Evite itens tendenciosos que possam induzir os participantes a responder de uma maneira específica. Os itens devem ser imparciais e não sugestivos.
Palavras como “sempre”, “nunca”, “extremamente”, “de maneira nenhuma”, “muitíssimo”, etc., podem provocar respostas distorcidas. A gradação deve ser feita na escala, não no item.
Use exemplos concretos: Quando apropriado, inclua exemplos concretos nos itens para tornar o contexto mais claro para os participantes.
Seja sensível culturalmente: Considere as diferenças culturais e contextuais ao formular itens. Evite itens que possam ser mal interpretados ou insensíveis a determinadas culturas.
Envie os itens para a avaliação de juízes e faça testes piloto: Antes de usar os itens em sua pesquisa principal, envie para juízes especialistas para avaliar aspectos como relevância teórica, clareza e pertinência dos itens elaborados. Além disso, conduza testes piloto com um grupo menor de participantes para avaliar a compreensão e a clareza dos itens.
Lembre-se sempre de que a qualidade dos itens é o alicerce dos instrumentos de autorrelato, e seguir as melhores práticas apresentadas aqui pode ser fundamental para o sucesso do seu novo instrumento.
Conclusão
A elaboração cuidadosa de itens não é apenas uma tarefa técnica, mas também uma arte que envolve compreensão do construto e a sensibilidade às nuances da linguagem.
Embora o desenvolvimento de instrumentos de autorrelato pode ser desafiador, é também extremamente recompensador. É através desses itens que podemos capturar a complexidade das experiências e percepções humanas.
À medida que você se aprofunda nesse campo, lembre-se de que cada item que você cria representa uma oportunidade para entender melhor o comportamento humano e contribuir para o avanço do conhecimento em psicologia e áreas relacionadas.
Se você tiver alguma dúvida ou desejar compartilhar suas experiências na criação de instrumentos de autorrelato, não hesite em comentar abaixo. A colaboração e a troca de conhecimentos são fundamentais para o progresso da psicometria e da pesquisa psicológica como um todo.
Esperamos que este post tenha ajudado você a entender melhor esses conceitos e como aplicá-los na prática.
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Referência
Pacico, J. C. (2015) Como é feito um teste? Produção de itens. In Psicometria. Org: Claudio Simon Hutz, Denise Ruschel Bandeira, Clarissa Marceli Trentini. – Porto Alegre : Artmed.